Maria Judite de Carvalho e a justiça dos esquecidos
- Authors
- Publication Date
- Jan 01, 2022
- Source
- DIALNET
- Keywords
- Language
- Portuguese
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- Unknown
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Abstract
The forgotten are, for Giorgio Agamben (1999, p. 72-73), the ones who demand justice, and should not be consigned to memory and language, but remain unmistakable and nameless. To do justice to the forgotten ones will therefore be to talk about beings without importance and even existence, marked by emptiness and void, plunged into the despair of their bare lives, like the characters of the Portuguese writer Maria Judite de Carvalho are. This study wants to show how she does justice to the forgotten, displaying the lack of sense that only literature – the art which is disconnected from pragmatism and deprived of hope – can work with the tricks of Persefone and of Orpheus, in his transit between death and life, with the melancholy and negativity characteristic of forgotten subjects, trapped in their concentrated spaces of banishment and exclusion. The work recalls, therefore, Blanchot’s perspective that the literary work is proof of the impossibility of union, repetition that never ends, satiety that has nothing, scintillation of what is groundless and shallow. Nothing to do: no integration’s possible; for the forgotten, there is no rescue possibility. We know, however, with Almansi (1978): writers and poets are magicians, that language and poetry do not allow for a clear and definite sense; so it is possible to guarantee, with Orpheu’s songs and Persefone’s masks, life and prosperity in literature. / O esquecido é, para Giorgio Agamben (1999, p. 72-73), aquele que busca a justiça, não para ser entregue à memória e à língua, mas para permanecer imemorável e sem nome. Fazer justiça ao esquecido será, portanto, falar de seres desprovidos de importância e mesmo de existência, marcados pelo vazio e pela falta, mergulhados no desespero de suas vidas nuas, como são as personagens de Maria Judite de Carvalho. Estuda-se aqui a obra dessa escritora portuguesa que faz justiça aos esquecidos, exibindo a falta de sentido que somente a literatura – arte do intervalo desligada de pragmatismo e desvinculada de esperanças – pode elaborar com os artifícios e as trapaças de Perséfone e de Orfeu, em seu trânsito entre morte e vida, com a melancolia e a negatividade características de sujeitos presos em seus espaços concentracionais de banimento e exclusão. Lembra-se, assim, a perspectiva de Blanchot de que a obra literária é prova de impossibilidade de união, repetição nunca terminada, saciedade que nada tem, cintilação sem fundamento e sem profundidade. Aparentemente, nada a fazer: não há soluções a esperar, não há integração possível; para os esquecidos, não há possibilidade de resgate. Sabe-se, entretanto, com Almansi (1978): escritores e poetas são mágicos, a linguagem e a poesia impedem um sentido claro e definitivo e podem assim garantir, com os cantos de Orfeu e as máscaras de Perséfone, a vida e a prosperidade da literatura.